29.4.07

Seu Oscar

Eu acho que sou egoísta.
Entrevistei alguém especial, que me deu a reportagem mais linda e eu não arrumei tempo de levar o Dvd para ele assistir. E agora ele morreu. E agora, eu não vejo mais sentido na reportagem. Tenho certeza que ele não assistiu e ele queria tanto se ver. Você acha que seu trabalho serve para alguma coisa... Eu entro na casa de alguém e invado sua mente e suas pequenas histórias. Suas pequenas vergonhas. Seus pequenos talentos. E vou embora, carrego tudo em uma fita que entra em um computador, e ali eu faço o que quiser;

E durante a entrevista ele disse: “eu sinto que vou morrer. Eu sei disso. A morte está aqui, você pode não acreditar mas ela está chegando”.
Eu não acreditei.

E agora, eu sei, que às vezes eu tenho que arrumar tempo para a vida.
Hoje eu tive tristeza mas já não deu tempo.


Oscar Pinto Flores
05.05. 1929
29.04.2007

22.4.07

Poliglota

Sempre se precisa falar dos segredos. Os mais suportáveis e os outros. Os inomináveis. Os que não existem mais neste tempo mas que já foram um dia, notícias. Claramente, alguns não sobrevivem ao primeiro desencanto. Outros irão fazer dele um mártir. E terão aqueles que o esquecerão. Talvez eu seja do tipo que faça as três coisas.

Eu fico sempre olhando os que têm quase tudo na vida e me pergunto: se eu poderia um dia falar também quatro línguas. Ou se escreveria uma dissertação de mestrado. Ou se daria algum Workshop importante sobre moda. Na concepção grotesca da garota suicida, encontro o sentido que sempre evitamos. E que eu já sei : só há o possível quando não há mais o esconderijo das nossas palavras. Ou da omissão delas.

Rezo por um tratado pela deplorável sensatez que me encosta e não me deixa ir. Algumas vezes é como se tivesse que jogar fora o bilhete com o telefone anotado, para assim nunca mais discar o mesmo número.

Muita importância dada àqueles mesmos conceitos, que um dia você pensou ter se desfeito. Mas não conseguiu. E a memória, sempre oriunda de casos aleatórios e amores estraçalhados. Ela, sempre gritante por interromper o avanço desta incalculável solidão que se sobrepõe à graciosidade do mundo.

Se não fossem os doloridos desencontros pela ignorância em insistir em uma justificativa complexa ... e eu nem sabia que bastava apenas dar-se. Se eu soubesse que era amor.

O que se carrega eventualmente se torna absoluto. Terrivelmente, cada desejo secreto irá flutuar em uma piscina azul. E a surdez, convenientemente adquirida como escudo ou como espada não sustentará mais a falta dos anos. E de você.




O nome

Frederico se for menino
Luísa se for menina
E um lugar para eu ir de bicicleta.
Terei então o paraíso de mim mesma.
E a fome que não tenho
transformada em decisões.
Cachorros que não latem
apenas suspiram, baixinho,
como se não estivessem ali mais.
O querer não pode ser maior que a gente,
senão a casa nunca se ergue
ou cai sem mesmo um alicerce.
A ausência do seu sim
quase sempre
me deixando de fora da vida.

16.4.07

Aniversário


"Não se afobe não que nada é pra já, o amor não tem pressa e ele pode esperar"

14.4.07

Quanto aos filhos

se você não aceita seu filho como ele é, então não o ama profundamente. Então você ama as idealizações que você fez dele. É melhor parar de perder tempo e tentar descobrir quem ele realmente é. Talvez ainda seja possível encontrar admiração ali.



Talvez seja isto.

I do

Aceito toda e qualquer celulite que aterrise nas curtas pernas
Todo e qualquer mal estar gerado pela incapacidade de ser social
Aliás, aceito dar prosa se for de meu instinto
Darei palmas as minhas pedras renais
E farei delas o meu tempo dado à dor
E de sofrer em sofrer construirei a transgressão
Não aquela que achava ser feita de tatuagens e
Discussões ideológicas
A outra que ainda nem sei
Mas que parece ser mais sobre dar o não
E sobre digerir todas as escolhas
As que eu fiz e as que eu tive de comungar
Sem heroísmo nenhum dar à luz a gravidez
Enfrentar o reconhecimento por ser como todas as outras
E aceitar a inabilidade em cuidar de todos os outros
Nem sempre se pode com o afeto
Aceito os insuportáveis avisos da criatividade negada
Aceito o despreparo ao futuro
A anti-beleza que me persegue nos cabelos
E o fim do embate com a feminilidade
A quero como nunca
Assim como me despeço das obrigações inventadas por eu mesma
Amém.

L.

7.4.07

Confusão

Jolie-Pitt perfect family


mental e constante. Não sei para onde mudo ou se eu mudo eu mesma no mesmo lugar. Não sei se conheço um novo lugar ou se no mesmo lugar faço um novo mundo. Não sei se dou cria ou se me deixo criar. Não sei se me comunico mais com as pessoas ou se deixo as pessoas se comunicarem melhor comigo. Quero saber a todo instante o que será de mim. E não me divirto...

Acho que quero ser mãe. Mais que tudo. Preciso saber.

Seicentos e sessenta e seis

A vida é um deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem- um dia- uma outra oportunidade,


eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Mário Quintana e seu poema que acalma.

1.4.07

Eu voltei

O Portão
Roberto Carlos

Eu cheguei em frente ao portão, meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão, eu voltei
Tudo estava igual como era antes, quase nada se modificou
Acho que só eu mesmo mudei, eu voltei
Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei, eu voltei
Fui abrindo a porta devagar, mas deixei a luz entrar primeiro
Todo meu passado iluminei, e entrei
Meu retrato ainda na parede, meio amarelado pelo tempo
Como a perguntar por onde andei e eu falei
Onde andei não deu para ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei, eu voltei
Sem saber depois de tanto tempo se havia alguém em minha espera
Passos indecisos caminhei e parei
Quando vi que dois braços abertos, me abraçaram como antigamente
Tanto quis dizer e não falei e chorei
Eu voltei, agora pra ficar porque aqui, aqui é o meu lugar

Estrela Solitária O céu de Suely Scoop O maior amor do mundo













Vi quatro filmes neste fim de semana. Scoop ( Woody Allen), uma comédia com a deusa Scarlet Johanson, ela é uma diva, assim como foi Sofhia e Brigitte ou Rita. Não é somente a beleza, é o encantamento que ela nos causa. Está muito bem no filme, que é divertido e Woody (sim estou íntima), continua o ator de sempre, adoravelmente neurótico.

O que me irrita e quando eu digo que Uberlândia me sufoca, é eu ir na locadora tentar ver alguns antigos que ainda não vi do Woody. E não tem porra nenhuma. Esta é a cidade dos preguiçosos e para meu lamento dos que não sabem o que perdem ao não conhecer a obra de Woody. Vai logo para os botecos, sentem nas cadeiras e tomem cerveja.

E vá com a calça skinny, o salto alto, o cabelo pranchado com pequenas mechinhas loiras e discuta da vida alheia. Aparente ser rica e pense no cara na mesa da frente. Será que o carro dele é o modelo mais novo? Será que ele está afim de mim ou de minha amiga, aqui os caras acham que podem comer a turma inteira. Uma a uma. E elas acham que devem ser comidas não porque é bom mas porque não há nada mais para fazer. Se transa por puro tédio. Está vendo, vá ao cinema e tenha assunto.


No sábado de manhã, assisti ao belíssimo “Estrela Solitária” ( Wim Wenders). Gostei porque é muito bem filmado, lances inusitados e o Sam Shepard está tão decadente que dá vontade de abraçá-lo. A história de um ator de Hollywood super infeliz e solitário é ótima, porque em tempos de babado.com.br, em que a gente vê o casal Jolie-Pitt esbanjando milhões e filhos, a gente começa acreditar que nossa vida é pequena demais. Não é nada, vai ver que ela é uma mulher tão chata como nós, vai ver que ele não passa de um gala viciado em remédios para emagrecer e que os dois juntos não passam de um casal monótono que só sabem falar o quanto seus filhos são perfeitos. Uma forma sutil de dizer “nós somos pessoas maravilhosas, olham nosso rebento”. O filme não deixa lição de moral nenhuma, ainda bem. Todo filme americano precisa encerrar com algum provérbio tipo: “o amor sempre vence”.

Os outros dois são nacionais e excelentes, “O céu de Suely” (Karim Aïnouz) e “O maior amor do mundo”, Caca Diegues. Chorei muito nos dois. Ambos me lembraram da estética de “Central do Brasil”, filme que amei pela sutileza e respeito com o vazio que carregamos, aquele existencial que nunca se preenche. E nunca se acaba. Aquele que nos comove e nos direciona. Quando não nos desorienta.

No filme de Caca (SOU INTIMA SIM)... Antonio, é a personagem que nos conduz, ele descobre ter poucas semanas de vida, com um câncer incurável e progressivo restam-lhe poucas semanas e ele volta ao Brasil em busca de sua identidade ( ele é adotado), neste caminho, como sempre nos filmes de Diegues, a favela, as expressões artísticas e o desespero por não saber se a vida é realmente possível. Mas fica claro, no final surpreendente do filme, que ela é mais que possível, é divinamente nonsense. E isto é a graça. Para eles né, aqui no dia-a-dia o imprevisível me dá um puta medo.

Já o “Céu de Suely”, é lindo demais. Nem vou falar muito porque vale a pena alugar e ir desvendando quem é Hermila. Vou só colocar o básico: ela engravida de um namorado e juntos vão para SP. Ela volta para sua cidadezinha no interior do Ceara com o filho e espera o marido vir, ele nunca volta. E ela precisa sobreviver... quando decide rifar na cidade uma noite com ela. Seu desejo é pegar o dinheiro e ir para o lugar mais longe possível. A atriz manda muito bem e a historia é muito original e o que eu mais gostei é ver esta mulher querendo sair pelo mundo, custe o que custar. Sem regras ou alternativas melhores ela se convence de que pode sair dali.

Assim como a poesia, tem horas que um filme me salva.


Dá-lhe caneta e papel que o resto se dará





Eu achei que não sabia mais escrever. Uma angústia maior do que não dar conta de escrever é a de não dar conta de minha vida. Estava tomada disto. Enclausurada em minha própria escolha. Feito criança, chorei ao ver que não tinha todos os brinquedos a mão. Eu pareço ser um caderno antigo de pauta, em que testo obsessivamente minha caligrafia, se ela está redonda, bem escrita, bem treinada, bem perfeitinha. E o meu céu cada dia mais afastado. Só eu e minha descabida pretensão. Tenho uma inclinação áspera e densa para que outros decidam sobre minhas coisas. Eu transfiro toda a minha intensidade para qualquer um que a pegue, mesmo que seja para massacrá-la. Aliás, esta é minha preferida, dar-me ao outro para que ele possa consumir toda a minha insegurança e me provar que sou mesmo inadequada e inapropriada. E toda minha pulsante criatividade há de morrer, assim como eu. O meu remorso é minha persistente dor de cabeça porque não consigo ser eu mesma. Mesmo quando eu quero. Me perdi de mim. E estou aqui escrevendo, rabiscando porque minhas idéias ficam me atormentando. E eu acho que posso lidar contra isso. Mesmo me debatendo e custando-me pedras renais, enjôos, dentes desgastados e dores de cabeça como a de agora. Faço meu testamento e afirmo que não irei deixar de dar vida a minha loucura. O meu melhor está nos textos. E o meu sofrimento também. E toda a minha complexidade fica explícita em cada palavra. E não terei vergonha de vir até aqui. É aqui a minha redenção.


Por Lara Stoque, uma jornalista com bloqueios criativos... que eles sejam tão breves quanto o escorrer de uma lágrima.