12.4.08

Um susto

Não tenho medo de mentira.
Não tenho medo de quem mente.
Não tenho medo de acreditar na mentira.
Mas tenho medo de achar que eu sou assim.
A mentira. Como elas.
O que mais afaga a gente é a palavra.
Cantada, declamada, rabiscada e falada.
Se ela fala é porque é.
Eu achava.
Eu tinha a crença nas palavras.
Dos outros.
Minha crença agora é no silêncio.
Da vida.
Dos que não são encantam.
Dos que não se mobilizam.
Sou estátua.
Sou Mozart sem piano.
Sou lástima.
Tudo isto porque vi que somos os cegos.
Os sem visão nem sensação.
Somos oco, pau e madeira.
Somos só carcaça.