30.1.07

Sair Daqui




Preciso sair daqui. Irei sem o seu boa sorte e farei-me triste.

Pode-se deixar lugares e pessoas assim. Simplesmente indo. E muitos nem sequer desejaram nada, nem se despedirão.

Ir-se é deixar-se só por um tempo.
É enfrentar também a ausência.
A finitude.
A temporalidade.
O instante de partir é aquele em que evocamos nossa segurança.

Sim, precisa-se saber que quando há ida há uma volta mas nada será ou terá aquele sentido.
O sentido muda.
O instinto insiste em permanecer.
Mas o conhecimento ofusca as emoções.
Precisa-se deixar de lado, o que conforta
dito que o que temos de mais estável é o ir e o vir.

Depois da primeira bicicleta não haverá distância.
Acaba-se
Recomeça
Reacende
Refaz
E continuo indo


Falo que estou saindo mas me comovo também em saber que este tempo não será mais como antes.
Quando voltar terei perdido um tanto
Terei falta de cada dia morno
De cada pessoa insignificante
E das significantes,
Com sorte elas vivas estarão quando eu aqui voltar.

Estou dizendo que não posso ficar
Que custa-me muito deixar isto tudo mesmo que em certas horas o tudo pareça nada
Mas que bem sei que é importante
Minha grandeza em partir é ver que posso agüentar
Sei desenhar um novo diário
E mesmo que o sol daqui dure mais tempo
De lá terei as noites
O frio
Do tempo e das pessoas

Assino minha saída deste espaço
Levo tudo que tenho e que cabe na mão
Minha identidade
Minha neurose
Minha infelicidade
E a minha sufocante alegria

Não saberei o que fazer quando lá perceber
que aqui tinha tanto,
que aqui era estreito e pobre mas com mais tolerância
pudesse ficar mais amplo e menos mesquinho.

Mas irei sim,
Farei de lá o meu aqui.
'
L.

Escrevi este poema quando tinha certeza que ia para Inglaterra

Grávida de um liquidificador!




"Ser mãe não é padecer no paraíso,
é uma farra no inferno".

Rita Lee

Entre ratos e lagartas



Não sei se fico por aqui ou se me aventuro em Londres. Não sei se volto a estudar ou se penso em ganhar mais dinheiro. Não sei se paro de tomar remédio ou se vou mochilar na América do Sul. Não sei quase nada. Mas sinto quase tudo. Desejos.

23.1.07

Satisfaction?

A gente não quer só comida

Meu mundo é o maldito mundo da obrigação, aonde se faz o que se deve e não o que se quer. Nunca sobra espaço para as minhas idéias. É só aquilo que me mandam fazer.

Queria ser Leila Diniz


Tive certeza absoluta que não tenho muita paciência comigo mesma. Me desdobro para conseguir não me aporrinhar de cinco em cinco minutos. Fico chamando minha atenção, silenciosamente exijo todas as coisas. Cansa.
Hoje, eu pensei em gritar no trabalho. Falar umas coisas. Eu não diria que eram boas. Eram quase terríveis. Eu sei que é perdoável mas não sei verbalizá-las nem lá e nem aqui. Se no texto, estou muda...

Tenho uma lista de livros que preciso ler. Mas fico sem-vergonha e quero ler outros que não estão na lista. A gente sempre faz isto, na vida.

20.1.07

Os homens são idiotas


A Gugu mandou para mim, a notícia, de que um em cada oito homens britânicos trocariam sua noiva por um Ipod. O relatório divulgou que 13% dos homens realizariam a polêmica troca, enquanto apenas 6% das mulheres fariam o mesmo.
Eu não sei como a gente deve se sentir. Muitos relacionamentos ruins nem valem um Ipod, isto é verdade. Mas ainda assim, a gente fica meio mal com estas coisas. E se um Ipod vale mais que uma noiva, o que será que vale mais que um noivo?

Todo dia ela faz tudo sempre igual

Tem um pesadelo com bêbes. Acorda, seca o cabelo, faz café, passa gloss, escolhe a bolsa que vai usar. Dá um beijo. Começa mais um dia. Vai trabalhar, conversa com as pessoas, sente-se irritada. Esquece de tomar anticoncepcional, lembra dele e pensa se deve mesmo tomar ou se já está na hora... toca o telefone, a dentista, o contador, a amiga, a mãe, a sogra, o marido. Volta para a reunião, decide não falar mais suas opiniões. Em um segundo, começa a falar o que pensa e sugerir coisas. Se arrepende e resolve tomar capuccino. Açúcar ou não? Lembra do dia em que resolveu não ser mais mulher e pensar como os homens, tenta lembrar o que isto significa, não consegue. Manda uma mensagem para alguém abrindo o coração. Acaba a reunião, olha o relógio, não quer almoçar. Tem medo da compulsão alimentar da semana. Lê na agenda que tem mais um aniversário. Vai tomar água e lembra do anticoncepcional, toma ele. Arrepende. Sai com pressa e não acha lugar para estacionar. Fica pensando que precisa de férias. Mas já tirou férias. Olha no retrovisor, se assusta com o volume do seu cabelo. Jura que não vai mais cortar o cabelo. Liga no salão para marcar um horário para cortar o cabelo. Senta para almoçar, decide começar um assunto polêmico, precisa de distração. No meio do assunto, dispersa, pensa se come açúcar ou não. Come, claro. Come de novo. Arrepende-se. Resolve não conversar mais até o fim do dia. O chefe liga é hora de continuar. Mais amigas grávidas, a boa notícia: serão homens. Se emociona e acha que está chegando a sua hora. Volta ao trabalho, abre os e-mails, sente-se agressiva, melhor nem responder. Olha a agenda, dia de treinar. Começa a chover. Vai tomar café. Açúcar ou não. Mil gotas de adoçante, então. Arrepende-se. Vê fotos de celebridade, sente-se pobre, gorda e desarrumada. Começa a responder e-mails, sente-se agoniada, não sabe que roupa vestir no aniversário. Está trabalhando e sente-se bem. Ao rever o trabalho da semana passada, acaba a paz. Exigência, podia ser bem melhor. Frustra-se e acha que precisa se dedicar mais. Resolve voltar a estudar. Decide engravidar. Olha viagens caras para lugares maravilhosos. Manda de novo mensagem afirmando sua dor em simplesmente não saber o que fazer da vida. Toca o telefone, alguém elogia, fica com vergonha e se esconde no banheiro. Não olha no espelho, tem medo. Depois de cinco minutos, sai do banheiro, decidida, avisa que vai chegar mais cedo amanhã. Precisa trabalhar mais. Já passam das sete da noite, vai treinar, odeia as roupas de ginástica, odeia todas as mulheres de roupa de ginástica. Começa a correr. Pensa nas contas, quanto custa um filho? Muda de pensamento, observa os homens, se chateia. São estranhos e esnobes, lamenta pelas amigas solteiras. Volta a pensar nos peitos cheios de leite, na mesma hora passa uma criança linda, sorri para ela. Ela faz careta e emburra. Desiste de ser mãe. Pensa em abrir um negócio, no meio do pensamento, sonha com uma calça jeans nova. O cabelo começa a cair, prende de novo. Transpira muito. Se renova. Acabou o treino, passa na padaria. Compra pão francês. Olha o bolo de chocolate. Compra. Se arrepende. Sente-se só. Chora no carro. Chega em casa, promete organizar as coisas no fim de semana. Liga a Tv, desliga a Tv. Deita, sonha com bêbes. Acorda, lembra que não foi ao aniversário. Sofre por ser relapsa. Faz café. Açúcar ou não?
L.

18.1.07

Like a rolling stone ...


Aconteceu e foi bom. Alguém me liga e diz que gostou de um texto meu e quer me dar um presente.Eu parei do lado de cá da linha. E eu nem entendi muito mas sei que a Cláudia deixou o presente para mim e é lindo. Ela é artista plástica e criou um quadro com meu texto. E eu flutuei.
O que a gente não sabe acaba sendo maior que tudo que a gente tem certeza.

16.1.07

Desse ofício


Acho que foi culpa da Tuca que comecei a escrever, a gente trocava cartas longuíssimas sobre nossas terríveis e deliciosas experiências na adolescência. Eu era ansiosa, às vezes respondia a carta sem ela nem ter chegado. Hoje a gente troca e-mails mas eu continuo ansiosa e fico checando toda hora pra ver se tem resposta.

O ano em que meus pais saíram de férias


É um filme sensível, delicado, o garoto é muito carismático e tem um olhar triste mesmo. Boa história, poucos diálogos e no fundo parece tratar de amizade.

Indico para quem quer sentir mais do que a adrenalina proposta pelo 007. Aliás, como é o novo James Bond? Ele me lembra um conhecido psicopata que era tão doente que até ciúmes do garçom ele tinha. O filme não é para qualquer um. Nem este maluco é para uma mulher. Esse doido, não o Daniel Craig!!!

Eu vou fazer uma prece pra Deus nosso senhor ....




Tem horas que a gente acha que a chuva não vai mais passar.
Ontem, enquanto eu corria observava e a gente percebe que toda aparência é pouca para algumas pessoas. Uns correm de camisa pólo, tênis puma ( aqueles tipo de piloto de Fórmula 1 colorido e fashion) e bermuda cargo ( aquelas de brim e pesada). Outras moças, saem em disparada e correm durante 392 metros se cansam e param. Fazem isto bem na porta da academia. E as coisas não param por aí, muitos homens ou sei lá seres musculosos que ficam horas a fio puxando ferro . Literalmente. Eu não preciso ficar vendo isto. Me dá vontade de ir embora. E ontem choveu e enquanto molhava minha cara, tinha certeza que se tem chuva é porque a gente suporta ela.

14.1.07

....

Descabida de mim, de qualquer momento de sensatez. Descabida do silêncio das vozes que me instigavam. O amor tão descabido de coerência. Tão descabido de decência. E eu achava que ser adequada mudaria a vida.

L.

Like a Virgin




Um em cada dez adolescentes sofre de depressão ( I Encontro Nacional de Psicanálise do Rio de Janeiro) no Brasil. Mas a gente acha que ficar triste assim é normal. A Madonna me salvou.

Cólera




Os poemas não se sustentam, meu esteio já não suporta. A avó admirada também falha. A avó brincalhona também sofre. O encontro entre tudo isso deu num inferno, facilmente me perdi. Já quero ir.

Dizem que o melhor está por vir. Cadê? Será que não passa na minha rua? Será que ele preferiu outros? Será que essa amargura toda é leve? Será que se decide que alguns não merecem. Alguns não precisam. Alguns não entendem.

Cansa a compreensão e cansa o sonho. Cansa ver que a perspectiva não mudou. Cansa tomar os remédios. Cansa abandoná-los. Cansa inventar um novo desejo. Cansa perceber que não mudou. Cansa e magoa.

Opressão não me assusta mais. Tenho tido tanto pouco tempo para o riso. Tenho tido pouco tempo para repensar meus cadernos. Tenho tido tanto choro. Tenho tido tanto de você em mim. Tenho tido menos da vida. Tenho tido menos do mundo. Tenho tido bem mesmo de mim.

Tenho tentado o sim. Tenho tentado a alegria. Tenho tentado a confiança. Tenho tentado as orações. Tenho tentado soltar a agonia. Tenho tentado deprimir menos. Tenho tentado a dignidade do trabalho. Tenho tentado a solidez da calmaria. Tenho tentado o reflexivo. Tenho tentado o papel, a caneta e o word.

Nunca está pronto para seguir. Nunca está pronto para quebrar. Nunca está pronto para construir. Nunca está pronto para refazer. Nunca está pronto para as desculpas. Nunca está pronto para odiar o suficiente. Nunca está pronto para recalcular os sonhos. Nunca está pronto para ser.

Sendo a morte em si o alívio, não posso querê-la. Não quero esse alívio cretino dos perdedores. Não quero a leveza de quem se despede daqui. Não quero o fim porque para mim há muito a se fazer. Muito ainda para entender. Muito para perdoar. Muito para aceitar. Muito para expressar. Muito para desbravar. Muito para me dilacerar. Mais umas vezes. Muitas outras.
L.

13.1.07

Início

Começei. Não sei motivos. Acho que preciso. Pareço dar conta de mim por aqui. Os textos são sempre maiores que qualquer ilusão. Veremos.