Sair Daqui
Preciso sair daqui. Irei sem o seu boa sorte e farei-me triste.
Pode-se deixar lugares e pessoas assim. Simplesmente indo. E muitos nem sequer desejaram nada, nem se despedirão.
Ir-se é deixar-se só por um tempo.
É enfrentar também a ausência.
A finitude.
A temporalidade.
O instante de partir é aquele em que evocamos nossa segurança.
Sim, precisa-se saber que quando há ida há uma volta mas nada será ou terá aquele sentido.
O sentido muda.
O instinto insiste em permanecer.
Mas o conhecimento ofusca as emoções.
Precisa-se deixar de lado, o que conforta
dito que o que temos de mais estável é o ir e o vir.
Depois da primeira bicicleta não haverá distância.
Acaba-se
Recomeça
Reacende
Refaz
E continuo indo
Falo que estou saindo mas me comovo também em saber que este tempo não será mais como antes.
Quando voltar terei perdido um tanto
Terei falta de cada dia morno
De cada pessoa insignificante
E das significantes,
Com sorte elas vivas estarão quando eu aqui voltar.
Estou dizendo que não posso ficar
Que custa-me muito deixar isto tudo mesmo que em certas horas o tudo pareça nada
Mas que bem sei que é importante
Minha grandeza em partir é ver que posso agüentar
Sei desenhar um novo diário
E mesmo que o sol daqui dure mais tempo
De lá terei as noites
O frio
Do tempo e das pessoas
Assino minha saída deste espaço
Levo tudo que tenho e que cabe na mão
Minha identidade
Minha neurose
Minha infelicidade
E a minha sufocante alegria
Não saberei o que fazer quando lá perceber
que aqui tinha tanto,
que aqui era estreito e pobre mas com mais tolerância
pudesse ficar mais amplo e menos mesquinho.
Mas irei sim,
Farei de lá o meu aqui.
'
L.
Escrevi este poema quando tinha certeza que ia para Inglaterra