24.3.08

Blowin' in the Wind


How many roads must a man walk down

Before you call him a man?

Yes, 'n' how many seas must a white dove sail

Before she sleeps in the sand?

Yes, 'n' how many times must the cannon balls fly

Before they're forever banned?

The answer, my friend, is blowin' in the wind,

The answer is blowin' in the wind.


How many times must a man look upBefore he can see the sky?

Yes, 'n' how many ears must one man have

Before he can hear people cry?

Yes, 'n' how many deaths will it take till he knows

That too many people have died?

The answer, my friend, is blowin' in the wind,

The answer is blowin' in the wind.

How many years can a mountain exist

Before it's washed to the sea?

Yes, 'n' how many years can some people exist

Before they're allowed to be free?

Yes, 'n' how many times can a man turn his head,

Pretending he just doesn't see?

The answer, my friend, is blowin' in the wind,

The answer is blowin' in the wind.

19.3.08

A sua imagem

Uma imagem nem sempre consegue salvar o dia. Trabalhando mais de doze horas por dia na produção de vídeos, com o tempo você deixa de diferenciar aquilo que acontece nas câmeras e o que acontece fora dela. Vira um só espaço. Você nunca nem sabe quando o rec está ligado, ou quando a imagem foi ou não capturada. Você se enfia nisto e finca sua energia, seu sono, sua fome, seu precioso pensamento e sem se dar conta você vira aquilo. Vira a notícia, vira o áudio, vira o texto. Você passa a ser o que você produziu.

E com o tempo você gosta disto. Gosta muito. Você não teme mais os olhares que um dia te impediram de fazer edições nas falas dos outros. Você corta. Recorta. Cola. Dá brilho. Coloca preto e branco. Colore. E reverte a velocidade. Ou aumenta. Tudo depende de você. E sem saber você vira dona de um mundo. E ali a direção é sua. E se Deus chegar, você pede para ele sair.

Aquilo é sua construção e o máximo que irá acontecer é você aceitar o que os outros como você dizem. Outros que também doentemente trocam um almoço, um namoro, um cafuné, uma festa, para estar ali. Os pedaços de papéis com anotações e rabiscos estão jogados na salinha pequena. E sua insanidade é lúcida, porque você apenas quer a música perfeita. Não dá para ser mediano, não dá para ser algo razoável. Ou você conta a história como ela merece ou você morre com ela.

Não há negociações, nem medidas. E deste sufocamento quase insuportável você sangra até não agüentar mais. E você assiste... e se não te der vontade de dançar Sinatra melhor parar. Apagar. Jogar fora horas e horas de trabalho e esforço. É melhor assim. Vá para casa, durma um pouco. Volte e recomece.

É disto que a gente vive. Da câmera, do entrevistado, da imagem desfocada, do texto que você inventou. A gente vive de um desenho que não sai do lápis. Sai de dentro. Do nosso melhor, de nossas virtudes e nossa boa fé. Mas sai também da nossa pequenina, lamentável condição miserável e inútil; nós, egoístas, invejosos e irados. É daqui que sai, quase que expulso, a nossa fragilidade. E dali em diante você não é mais nada. Não até o próximo.

Por Lara Stoque

18.3.08

Coisas inacabadas ... tempo finalizado

Alguém pergunta o que eu realizei até hoje. Não respondo. Não respiro. Não hesito. Não tremo porque já sei a resposta e isto é minha sina. Fazer aniversário implica em repensar nossos desejos. Nossas respostas feitas. Nosso pequeno álbum de fotos. Nossa identidade mutante. Lamentar as bifurcações e dar falta do tempo que não usamos. E talvez apreciar nossas vias escolhidas.

Trinta anos é a idade de razão já foi dito. Trinta anos é quando você pára e pensa se era para ser assim mesmo ou o avesso disto. Trinta anos acontece quando você sabe que não pode mais esconder suas futilidades. Elas vieram à tona. Agüente. Trinta anos é quando suas costas começam a doer. Não pelo tempo. Mas pela bagagem. Trinta anos te encosta e você não pode nem prestar um novo vestibular. É como sua mãe um dia disse: você terá que estar por si só.

A maratona que você se propôs correr foi adiada. Por você mesma. E o bêbe que você achava já ser um menino de dois anos você ainda não teve tempo de fazer. Ou vontade mesmo. Os amigos continuam com você. Mas nem sempre você consegue estar com eles. Não do jeito que você queria. Não como antes. Não como adolescentes desocupados que falam horas pelo telefone. Os cachorros da sua infância morreram todos. Seus pais não exprimem mais jovialidade, parecem cansados. Muitos dos livros lidos são esquecidos. Alguns, você lembra pela metade. E um ou o outro você carrega dentro da bolsa anotando suas frases preferidas. Você tem que anotar. Você tem que fazer listas quando viaja. Você tem que triplicar o peso das caneleiras. E você acha que sexo é menos importante do que pensou. Bem menos.

Dentre tantos países do mundo que pretende visitar, de vez em quando você prefere sua casa mesmo. A mochila surrada está em algum armário. Os saltos viraram sapatilhas de bailarina. E a mini-saia parece deslocada em meio a um certo conservadorismo que a rodeia, ou será que é simplesmente vergonha da flacidez?

E me perguntam como eu sinto. Não sei. Não faço a mínima idéia. Não sei se é um bom sinal que tenha perdido alguns sonhos. Não sei se é frustrante ter que comer menos. Não sei se é indelicadeza falar o que penso com tanta naturalidade. Não sei se é o tempo que passou rápido ou se eu que vivi brigando contra ele. Não sei se é insegurança mas ainda fico aterrorizada com crianças que fazem birra, você acha que o seu não fará. Mas e se ele fizer?

Não sei se é inteligência mas você respira mais antes de ter impulsos apaixonados que te levam a ligar para a pessoa errada. Não sei se é ilusão mas você acha que está mais pronta para estudar de novo. Não sei se é inadequado mas você quebra todas as suas regras e começa a escrever tudo de novo. Você já tem trinta e pode dar conta disto. Com ou sem ajuda. E Você tem coisas inacabadas. Um milhão delas. Mas no final do dia parece que isto é o melhor que você tem: e é bom demais saber disto.



Para a Letícia, Veridiana, Juliana e Camila. Futuras e recém trintonas!

17.3.08

Amor bastante



"quando eu vi você tive uma idéia brilhante foi como se eu olhasse de dentro de um diamante e meu olho ganhasse mil faces num só instante basta um instante e você tem amor bastante um bom poema leva anos cinco jogando bola, mais cinco estudando sânscrito, seis carregando pedra, nove namorando a vizinha, sete levando porrada, quatro andando sozinho, três mudando de cidade, dez trocando de assunto, uma eternidade, eu e você, caminhando junto"
Paulo Leminsk

Um blog

A Tuca me mandou o endereço de um blog que é maravilhoso. Triste. Mas acho que quem for lá irá se impressionar.

parafrancisco.blogspot.com

11.3.08

O teu nome

Achando que nunca mais fosse preciso dizê-lo pensei que assim poderia esquecer. O nome das coisas é dado de acordo com sua função ou sua história. E tudo que é, tem nome. E disto a gente precisa. A segurança de chamar por alguém parece tão simples mas é tão subestimada por nós. Eu não me lembro a primeira vez em que falei seu nome. Nem a última. Não sei que frase eu disse, não sei que entonação usei. Não sei se fui incisiva. Ou se fui encabulada. Mas queria rever isto. Só para dar mais atenção. Queria lembrar do seu rosto, refazer sua fala. Remontar a cena. Ou todas elas em que eu e você estávamos. Não posso mais. Nunca mais.

E existe uma linha que divide a gente. Uma linha invisível e quebradiça. Uma linha horripilante. E para todos. Todos. Ela é idêntica até que se rompa. De um lado as pessoas que já experimentaram o luto; do outro aquelas que sabem que isto existe mas que (felizmente) não sentiram este gosto.

E depois que quebra, nada cola. Nada substituí. Nada terá a mesma cor. Não do jeito que você via antes. Provavelmente agora, um milhão de bêbes nascem pelo mundo. E um outro tanto está indo embora, morrendo. Morrendo e deixando um outro tanto de gente que está parada em algum cantinho repetindo bravamente: não é verdade. Mas sempre é. E por mais que sejam entoados mantras, que sejam orados pai-nossos, que sejam cantados hinos ou que abraços sejam dados. Nada irá dar conta disto. Nada irá lidar com isto. Nada irá florescer dali. Como mágica seu amor, seu querido, seu amigo, seu irmão, seu filho, seus pais irão desaparecer.

E como mágica também dentro de você o sentimento mais genuíno irá aparecer. Falam em saudade, outros em esperança, alguns em amor. E exatamente nesta hora suas pernas irão tremer e você raivosamente perceberá que está aqui. Que não foi enterrado também.

O que não faríamos por mais um momento? O que não daríamos por um toque? Todas as palavras dentro de um dicionário, juntas, não podem exprimir a dor de querer dar continuidade a uma história.

Podemos colocar flores nos túmulos, podemos rezar missas de sétimo dia, um mês, um ano, dois. Podemos escrever cartas que nunca serão postadas. Podemos também ouvir mensagens que não foram apagadas. Podemos vestir o colete que era do outro, podemos assistir fitas com imagens perfeitas, podemos clamar por mensagens espíritas, podemos deitar e sonhar, podemos sim, ir aos mesmos lugares, podemos olhar para as fotos, podemos sentir a presença dos nossos amados. Podemos sobreviver. Mas aquela história, aquela conversa, aquele laço foi desfeito. Interrompido.

E silenciosamente você pede todos os dias que você suporte a ausência. Alguns dias isto será possível. Em outros não. De tempos em tempos, a raiva irá ser maior que sua fé. Mas em outros, você irá fechar os olhos e saberá que a história não continua, mas seu amor sim.


Por Lara Stoque para o João

De volta a 2008!


Não sei por quanto tempo, não sei se será produtivo, não sei se terá sentido. Mas precisava voltar.